Celebra-se esta quarta-feira a data que simboliza o papel dos estudantes na sociedade.
Foi a 8 de maio de 1987 que a Assembleia da República Portuguesa estabeleceu o dia 24 de março como Dia Nacional do Estudante, tendo como objetivos "o estímulo à participação dos estudantes na vida escolar e da sociedade" e a "cooperação e convivência entre os estudantes".
A história do Dia Nacional do Estudante é, contudo, anterior ao diploma que o institui. Conhece alguns dos principais marcos do seu trajeto, publicados na revista Forum Estudante:
E porque o Dia do Estudante é também um hino à coragem e um apelo à resiliência, publicamos um texto, da autoria da aluna Beatriz Soares, do 12.ºB, e da forma como a aluna retrata este tempo de pandemia. Tal como escreve a Beatriz "Serão mais fortes que isto? Nós somos… nós fomos mais fortes que isto."
Lisboa, 20 de janeiro de 2021
Querido Artur,
Há 47 anos que te perdi, há 47 anos que te escrevo como se estivesses apenas do outro lado do oceano. Acumulam-se as cartas no teu lado da cómoda, envelopes que te entregarei quando te voltar a ver, quando te voltar a tocar, quando voltar a sentir-me segura entre os teus braços e penso que esse instante estará a chegar em breve. Não tenho medo, vivi 78 anos, grande parte deles sem ti ao meu lado. Criei os nossos filhos, vi os nossos netos a mergulharem entre as páginas dos teus livros favoritos.
Sobrevivi a guerras, a injustiças, a uma ditadura, vivi por ti… por mim… pelos nossos. Agora, numa cama de hospital, num quarto partilhado com mais 5 almas… 5 histórias… 5 vidas, ligada a máquinas coladas à parede, vejo os nossos filhos pela pequena tela do telemóvel da enfermeira que aparece por cá 6 vezes por dia. Sei que eles sofrem, vejo pelos olhos da nossa filha que está devastada, mas tenho fé que este sofrimento irá acabar.
A ti obrigaram-te a ir para o ultramar, a deixar tudo para trás, todas as sementes que plantaste e que nunca pudeste ver desabrochar, tendo eu de colher as secas raízes que não regaste.
Hoje, alcançamos o maior número de mortes até agora. Há um ano que pedem para fechar as barreiras que um dia nos mantiveram unidos. Fácil, certo? Errado, já estamos nisto há 313 dias e ainda há pessoas que se recusam a fazer o que é melhor para todos e eu, e mais milhares de pessoas, estamos a pagar por isso, presos num erro irreversível. Dói… magoa não poder ver, poder tocá-los, poder cheirar o seu aroma mas, para não passar as festas sozinha… cedi, passamos dia e noite a sorrir… e a viver. Eles estão bem, graças a Deus, no entanto, sei que se culparão se eu partir, mas vai ficar tudo bem, restarão memórias que os reconfortarão nos tempos mais difíceis.
Serão mais fortes que isto? Nós somos… nós fomos mais fortes que isto.
Tu adorarias viver nestes tempos, farias piadas, dirias que se a guerra colonial não te tinha matado não seria um vírus que o faria, mas a realidade é que foi isso que aconteceu e sou eu que vivo, ou melhor, sobrevivo… sobrevivi.
Sinto que esta carta é a última que te escrevo, estarei contigo em breve, meu anjo. Está na hora de voltar para os teus braços e sobrevoar esta realidade que se transformou no inferno de muitos.
Com amor,
Alice
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